quarta-feira, 3 de março de 2010

Cine-Theatro Central





Com mais de 3 mil lugares, inaugurava se no dia 30 de março de 1929, em Juiz de Fora, no lugar pertencido ao Polytheama, uma ampla casa de espetáculos de propriedade de Francisco Valladares, presidente da Companhia Central de Diversões, e era então batizado de Cine-Theatro Central. O filme de inauguração foi “Esposa Alheia”. no evento, contou com a ilustre presença de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, então presidente do estado de Minas Gerais.

Com a inauguração do Cine-Theatro Central, os cinemas Paz e Polytheama deixaram de funcionar.

Quase um ano depois, no dia 17 de fevereiro de 1930, ele exibia o primeiro filme depois do advento do som: “O cantor de Jazz”.

O projeto do Cine-Theatro Central reflete as aspirações culturais da sociedade juizforana das primeiras décadas do século XX, ditadas pelo estilo de vida europeu. A suntuosidade da ornamentação interna revela a visão da sociedade juizforana sobre si mesma, numa época em que a cidade colecionava títulos pomposos como a "Manchester mineira" ou a "Barcelona mineira", referências ufanistas industriais e a sua tradição cultural.


Em contraste com o esplendor de seu interior, o prédio do Central apresenta fachadas que foram consideradas simples na época. Tal opinião devia-se ao fato de que a arquitetura do Central e distingue-se de outros imóveis construídos pela Pantaleone Arcuri no mesmo período - por ter um caráter inovador, orientado por linhas retas e pela tendência de geometrização da arquitetura Art Décor, concebida pelo arquiteto Raphael Arcuri. Em alta na Europa e nos Estados Unidos, a Art Décor era uma novidade para Juiz de Fora, o que em 1927 levou o diretor de obras públicas municipais, ao analisar as plantas para liberar a licença para a construção do Central, a observar em seu parecer que a fachada simples poderia ser substituída futuramente por outra “condizente com a importância” da Halfeld.

O Cine-Theatro Central recebeu grandes companhias líricas, orquestras e espetáculos teatrais. Os lugares de seus camarotes só eram vendidos durante apresentações de teatro e ópera, quando eram ocupados pelas famílias mais tradicionais da cidade: a elite do comércio, da indústria, da política e dos profissionais liberais - todos os engalanados para a grande de ocasião. O público também lotava o Central, aos sábados, entre a década de 40 e 50, para participar dos programas de auditório da Rádio Industrial, que traziam a Juiz de Fora grandes nomes da era do rádio, como as cantoras Adelaide Chiozzo e Eliana. O primeiro espetáculo exibido no Central foi a “Esposa Alheia” um filme dividido em oito atos e exibido após a apresentação da orquestra do teatro.


O Central é o principal exemplar arquitetônico de uma época em Juiz de Fora, os anos 20, período em que foram construídos importantes edifícios como o prédio do Banco de Crédito Real (1929) e a sede da Cia. Pantaleone Arcuri (1923 a 1927), o Palace Hotel (1929) e a Escola Normal (1930), símbolos do início da industrialização no Brasil, fase bem representada por Juiz de Fora e ainda pouco valorizada. Tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o teatro sempre foi mais do que uma casa comercial. É um centro de cultura e alvo do afeto da população. Espaço cultural de uso múltiplo, o Central é um dos principais teatros do pais. Seu palco foi projetado para apresentações de óperas, balés e orquestras, mas o teatro também teve sua importância fundamental no cinema. A exibição dos filmes era antecipada por um prefixo, a pequena ópera “Cavalleria Rusticana” do italiano Mascagni. Nos anos 70, com a platéia vazia, sinal dos tempos, bom mesmo era pagar o ingresso e assistir às sessões duplas.

O prédio do Central é um exemplo entre a arquitetura e as artes plásticas. O amplo e arrojado vão de estrutura metálica, sustentado sem pilares, deixa de ser mera estrutura para se transformar em objeto estético, sob a ação dos pincéis e Ângelo Biggi. Italiano radicado em Juiz de Fora após a Primeira Guerra Mundial, Biggi decorou o interior do teatro, produzido um dos grandes trabalhos da pintura mural da cidade. No teto, ele inseriu medalhões com efígies de grandes mestres da música: Vagner, Verdi, Beethoven e Carlos Gomes. Nas paredes, "abundante e compacta ornamentação".

A obra dos Cine-Theatro Central assumiu importante papel ao inserir de Juiz de Fora no corredor cultural do eixo RJ-SP-BH, especialmente durante os anos 30 e 40, quando foi palco das grandes produções nacionais e estrangeiras, com apresentações destacadas companhia teatrais e líricas. De meados dos anos 50 e início dos anos 70, o Central foi cenário de concertos líricos do Teatro Experimental de Ópera de Juiz de Fora. Na década de 70, o Cine-Theatro - uma das únicas casas do país adequada para receber quase todos os gêneros de espetáculos, integrou o “Circuito universitário”, que trouxe a Juiz de Fora alguns dos mais importantes nomes da MPB, como Milton Nascimento, Chico Buarque e Gonzaguinha.

Apesar dos desgastes provocados pelo tempo, da precariedade das instalações elétricas e hidráulicas, sujeitando o patrimônio à ameaça de incêndio, resistiu como cenário cultural de grandes eventos nos anos 80 e início dos 90, época em que recebeu nomes como Tom Jobim e Arthur Moreira Lima e Wagner Tiso. Desencadeou-se a campanha de aquisição do prédio e sua restauração. Adquirido pela Universidade Federal do Juiz de Fora, passou a ser gerenciado em parceria entre UFJF e prefeitura.

E o custo da desapropriação da Companhia Franco-Brasileira custou aos cofres públicos e a quantia de U$ 2,1 milhões de dólares paga pelo ministério da educação através do governo federal e doado à Universidade Federal do Juiz de Fora. A solenidade oficial de compra do imóvel ocorreu no dia 07 de maio de 1994.

Em 1995 foi fechado para as obras de restauração, que recuperaram toda beleza e grandiosidade do teatro, que, re-inaugurado em 14 de novembro 1996 voltou a ser palco de grandes espetáculos.

Uma curiosidade é que o prédio do Cine-Theatro Central foi a primeira construção de concreto armado da cidade de Juiz de Fora. A empresa responsável pela restauração foi a Espaço Tempo, de Maximiniano e Martha Fontana.



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